Como a vitória de Milei na Argentina pode afetar o agro?
Relações comerciais dependem de condições econômicas, diz especialista
|Argentina é o terceiro principal parceiro comercial do Brasil, atrás da China e do Estados Unidos. (Foto - Matias Baglietto/Reuters)
O êxito do candidato ultradireitista Javier Milei para presidência da Argentina, no domingo (dia 19), levantou dúvidas em relação ao futuro das relações diplomáticas e econômicas entre Brasil e Argentina devido a posturas do candidato ao longo da campanha. O novo comandante argentino defendeu a saída da Argentina do Mercosul, mas depois recuou e passou a defender apenas mudanças no bloco econômico, que reúne também Uruguai, Brasil e Paraguai.
Milei disse também que não faria negócios com o Brasil, nem com a China, os dois principais parceiros comerciais da Argentina, e ainda fez duras críticas contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lançando dúvidas sobre as relações entre os dois países.
A Argentina é o terceiro principal parceiro comercial do Brasil, atrás da China e do Estados Unidos. Em 2022, as exportações brasileiras para a Argentina alcançaram o valor de US$ 15,3 bilhões. As importações de produtos argentinos, por sua vez, chegaram a US$ 13 bilhões. A Argentina foi o principal fornecedor de produtos agropecuários para o Brasil no acumulado de 2023 até o mês de outubro.
O agronegócio argentino foi um dos grandes apoiadores de Milei na campanha, já que ele prometeu que reduziria os impostos de exportação e também permitiria que os agricultores vendessem suas safras onde quisessem.
Como Milei pode afetar as relações com o Brasil?
Para o professor Nildo Ouriques, a relação entre Brasil e Argentina, dada a dependência entre os dois países, não deve ser modificada. O presidente do Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (Iela-UFSC) defendeu que a política é feita de atos, não de declarações.
“Vamos ver o que o Milei vai fazer, mas será muito pouco. O Mercosul é o paraíso das multinacionais. Por isso mesmo, o bloco não corre nenhum risco. Acha que Lula ou Milei vão se enfrentar com as multinacionais? De jeito nenhum. Das 15 maiores empresas do comércio entre Brasil e Argentina, 13 são multinacionais”, explicou.