De vilãs a aliadas: baratas podem ajudar a revolucionar a produção de bioenergia no Brasil

Estudo mostra que enzimas digestivas das baratas podem tornar mais barata e eficiente a produção de etanol e outras formas de bioenergia

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De vilãs a aliadas: baratas podem ajudar a revolucionar a produção de bioenergia no Brasil
01deSetembrode2025ás15:15

Na rua, no banheiro ou na cozinha, quem encontra uma barata raramente imagina boa companhia.

Pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da USP e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), porém, apostam numa parceria improvável: entender a digestão desses insetos pode ser chave para uma matriz energética mais limpa.

Poucos animais são tão ecléticos na dieta. Muitas vezes descritas como detritívoras, as baratas consomem de folhas secas a dejetos, atuando como “faxineiras” dos ecossistemas ao processar matéria orgânica que, em excesso, desregula o ambiente.

Para isso, evoluíram um sistema digestivo “coringa”, capaz de lidar com uma ampla gama de alimentos. Essa capacidade adaptativa é o foco do estudo.

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O que o estudo fez

No Departamento de Botânica do IB, o professor Marcos Buckeridge integrou o esforço de descrição do sistema digestivo da barata Periplaneta americana, espécie comum em ambientes urbanos.

A meta foi entender como o inseto degrada biomassa, a matéria orgânica que serve de alimento.

“Queríamos saber quais enzimas e quais estruturas atacavam a biomassa,” explica Buckeridge.

Ao compreender como plantas e animais processam matéria orgânica, diz ele, é possível identificar funções metabólicas que podem ser adaptadas para uso industrial — abordagem de biomimética que abre perspectivas para o setor bioenergético. Inspirar-se nas baratas pode, por exemplo, melhorar o aproveitamento do bagaço de cana-de-açúcar.

“Com isso, teríamos uma potência muito maior de degradação da biomassa para produção do etanol,” ressalta.