Pesquisa da Embrapa reafirma alta qualidade do trigo nacional
Estudo comprova potencial do campo, porém indica necessidade de melhoras no armazenamento
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Crédito da imagem: Jorge Henique Chagas/Embrapa
Como diria sabedoria popular, o Brasil está com a “faca e o queijo” nas mãos quando o assunto é produção de trigo de qualidade e potencial para ser autossuficiente no cultivo do cereal.
É o que aponta pesquisa divulgada nesta terça (dia 19) pela Embrapa.
O estudo, que contou também com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, analisou 34 amostras de 12 genótipos do cereal, cultivados no Cerrado Mineiro, e constatou que todas são habilitadas para uso na panificação industrial.
Os pesquisadores consideraram todas as exigências do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), além de comparações com padrões internacionais.
As amostras também demonstraram alto potencial prebiótico (mesmo quando transformada em farinha de trigo), com benefícios para a microbiota intestinal e, consequentemente, para a saúde humana.
Agora, a expectativa da Embrapa é que o estudo incentive ações de pesquisa para geração de novas cultivares adaptadas ao solo nacional e estimule políticas públicas em prol da cadeia produtiva.
“Existe um enorme potencial comercial a ser explorado com o cultivo do trigo em ambientes tropicais, como o Cerrado Brasileiro”, destaca Martha Zavariz, pesquisadora de Laboratório de Qualidade de Grãos, da Embrapa Trigo.
O estudo foi publicado no Journal of Food Processing and Preservation, sob o título “Brazilian Cerrado Wheat: Technological Quality of Genotypes Grown in Tropical Location" (em tradução para o português: Trigo do Cerrado Brasileiro: qualidade tecnológica dos genótipos cultivados em locais tropicais).
Cerrado é diferencial
O Cerrado está entre os principais “trunfos” do Brasil para a produção de grãos diferenciados, de acordo com a pesquisadora da Embrapa.
Ela explica que, por ser uma região caracterizada por não ter chuva na época de colheita, o Cerrado costuma produzir grãos com alta qualidade, marcados pela baixa atividade da enzima alfa-amilase, e mais adequados para produção de farinha para fazer pão.
Além disso, os grãos, em geral, apresentam textura dura, gerando um bom rendimento em farinha, o que é muito interessante para os moinhos em termos comerciais.
“Na moagem industrial, quando os grãos são duros, a casca ou farelo separa-se mais facilmente do endosperma (parte branca do interior do grão), permitindo rendimentos mais elevados em farinha branca”, explica.
Mas por que o Brasil ainda importa trigo?
Um dos questionamentos trazidos com o estudo é justamente porque o Brasil ainda é tão dependente das importações do cereal, principalmente diante da qualidade do cultivo e da alta produtividade das últimas safras.
A resposta, de acordo os pesquisadores envolvidos na pesquisa, envolve a atuação de vários atores da cadeia produtiva, incluindo problemas de armazenamento e distribuição.
“O excedente do trigo produzido no Rio Grande do Sul é exportado para outros países, e não abastece as regiões Norte e o Nordeste do país, por exemplo,”, explica Luiz Carlos Gutkoski, professor e pesquisador do curso de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição da Unirio.
Para ele, é um problema o fato de que, atualmente, não há onde armazenar os grãos de trigo produzidos em excesso no Brasil.
Segundo o professor, nos silos de armazenagem de grãos no Brasil, o carro-chefe é a soja, em segundo lugar, o milho, e o trigo vem apenas em terceiro lugar.
“O trigo brasileiro é de nível internacional, mas os produtores precisam de segurança para ampliar a área plantada e contar com a compra garantida pelo governo. É preciso investir em políticas públicas para este setor e para outras culturas de inverno, para ser mais rentável ao produtor investir nesta cultura”, afirma Gutkoski.