Indenizações de seguradoras podem ascender a R$ 15 bilhões por catástrofe no Rio Grande do Sul
Levantamento sobe o impacto da tragédia foi apresentado pela Cogo Inteligência em Agronegócio
|As enchentes no Rio Grande do Sul podem se tornar o evento climático de maior perda para a indústria de seguros no Brasil, ultrapassando a seca de 2022, que também afetou ao Estado.
De acordo com a Cogo Inteligência em Agronegócio, o volume de indenizações pelas inundações pode variar entre R$ 9 bilhões a R$ 15 bilhões, embora ainda seja difícil dar uma dimensão exata do impacto.
A maior perda causada por um evento climático no Brasil é a da seca provocada pelo fenômeno La Niña em 2022, e que levou a um volume de indenizações próximo a R$ 9 bilhões.
Naquele ano, as perdas foram concentradas no seguro agrícola, em que o volume total de sinistros no País saltou dos R$ 6,5 bilhões de 2021 para R$ 10,4 bilhões, de acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep).
O Rio Grande do Sul é o quarto maior mercado do setor no País, com cerca de 7% da arrecadação nos quatro primeiros meses do ano, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
A importância, porém, varia de acordo com o ramo de negócio: no seguro rural, é o terceiro maior mercado, com 11,3% do total arrecadado de janeiro a abril deste ano.
Os impactos podem acontecer em diversas linhas em que atua, como o patrimonial, o rural e o residencial, desde que os contratos tenham coberturas para alagamentos e enchentes.
A consequência pode ser limitada por operações de retrocessão, que restringem o tamanho das perdas. A retrocessão é o repasse de contratos pelos resseguradores a outros agentes de mercado, e em geral, acontece no mercado internacional.
Os desdobramentos não devem aparecer de uma vez só, mas ao longo do tempo, e tendem a vir antes nas seguradoras. Quando um cliente aciona um seguro, a seguradora faz a chamada regulação, ou seja, avalia se de fato o sinistro ocorreu e se é coberto pela apólice.
Em caso afirmativo, paga a indenização, e só depois busca a resseguradora, que faz o mesmo processo. O seguro rural deverá ser uma das prioridades do Executivo nas medidas emergenciais de apoio ao Rio Grande do Sul.
Há um problema de sinistro no Estado sem precedentes e sem previsão possível nem pelas seguradoras nem pelos produtores. A situação de elevado índice de sinistros no Estado já vem das últimas três safras, afetadas por seca.
O evento traz de volta à discussão um tema antigo: a baixa cobertura de seguros no Brasil. Em geral, o nível de proteção no Brasil em produtos de seguro que cobrem impactos de desastres climáticos é muito baixo.
Estimativas de mercado apontam que a lacuna entre os seguros e o potencial de proteção no Brasil é de R$ 421 bilhões. Ainda mais preocupante é o fato de a lacuna de proteção no Brasil estar crescendo em um ritmo de cerca de 20% ao ano maior que o crescimento do mercado segurador, que é de cerca de 12% ao ano.
Quais são as estimativas de perda até agora?
As recentes enchentes no Rio Grande do Sul, desencadeadas pelas intensas chuvas, causaram danos significativos à infraestrutura, afetando mais de 2 milhões de pessoas, deixando em torno de 80 mil desabrigadas e mais de 500 mil desalojadas.
94,3% da atividade econômica do Rio Grande do Sul foi afetada pelas cheias que arrasaram o Estado.
Entre os locais mais atingidos, na Região da Serra o destaque vai para a produção nos segmentos metalmecânico (veículos, máquinas, produtos de metal) e móveis, enquanto na Região Metropolitana de Porto Alegre estão os metalmecânico (veículos, autopeças, máquinas), derivados de petróleo e alimentos.
A Região do Vale dos Sinos tem grande relevância a produção de calçados; e no Vale do Rio Pardo, destacam-se os segmentos de alimentos (carnes, massas) e tabaco.
Por fim, a Região do Vale do Taquari é forte nos segmentos de alimentos (carnes), calçados e químicos. Qualquer balanço é parcial, uma vez que ainda há municípios debaixo d’água e 254 bloqueios em ruas e estradas.
A saída encontrada pelo Ministério da Fazenda para dar suporte financeiro ao Rio Grande do Sul foi a abertura de créditos extraordinários, que poderiam atingir até R$ 50 bilhões.
O governo federal anunciou ainda a suspensão do pagamento da dívida do Rio Grande do Sul com a União por 36 meses, sem a cobrança de juros neste período.
A medida dará um alívio financeiro de R$ 11 bilhões ao Rio Grande do Sul, referente ao principal da dívida, além de outros R$ 12 bilhões em juros. Ao invés de receber esse principal, o governo quer que os recursos sejam destinados para um fundo voltado à reconstrução do Estado.
Soja
O Rio Grande do Sul é o segundo maior Estado produtor de soja no Brasil. A colheita no Rio Grande do Sul foi retomada apesar do alto teor de umidade no solo e nas plantas.
As perdas aumentam diariamente com o adiamento da operação (colheita), provocando a abertura de vagens, a germinação de grãos ou seu comprometimento pela proliferação de fungos.