“Crime organizado está por trás dos incêndios em São Paulo”, diz presidente da Faesp

Usinas e postos pertencentes a facção criminosa teriam motivação econômica para atos orquestrados

17deSetembrode2024ás14:29

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Tirso Meirelles, revelou que motivações econômicas do crime organizado são a principal hipótese por trás dos incêndios sem precedentes nos canaviais paulistas.

O executivo avaliou, durante o evento Top Farmers, que ocorre até amanhã em Campinas, que focos de fogo com tal magnitude não podem ter causas naturais ou mesmo acidentais.

"Não é possível que bitucas de cigarro ou cacos de vidro sejam responsáveis por tantos focos ao mesmo tempo. Os incêndios foram, sem dúvida, criminosos e orquestrados", afirmou Meirelles.

Meirelles mencionou que, até o momento, 22 pessoas foram presas, e inquéritos estão sendo conduzidos para apurar os responsáveis pelos incêndios.

O que ocorreu em São Paulo tem sinais claros da ação de uma organização criminosa com motivação econômica. Como não conseguem competir no mercado, eles tentam pressionar de outras formas”, disse.

O presidente da Faesp, inclusive, revelou haver indícios de que postos de gasolina e até algumas usinas pertencentes à tal organização estariam envolvidos no “dia do fogo” paulista.

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Entre as primeiras prisões, de fato, um dos detidos mencionou à polícia estar cumprindo ordens de uma facção criminosa que atua no estado e além de suas fronteiras.

Meirelles elogiou o governo de Tarcísio de Freitas pela resposta rápida às emergências e ressaltou o apoio da Polícia Civil, Polícia Federal e das forças de segurança para investigar e punir os responsáveis.

Além disso, mencionou o uso de tecnologia como satélites para identificar a origem dos focos de incêndio e seus responsáveis. "O governador é firme, e as pessoas responsáveis por essa tragédia estão sendo investigadas e confiamos que serão punidas", disse.

Suspeita do setor

A hipótese de envolvimento do crime organizado na série de incêndios no estado já era ventilada em aplicativos de conversas nas redes sociais, como o WhatsApp e o Telegram.

Um áudio apócrifo (sem autoria) sobre o tema foi compartilhado em diferentes grupos. O conteúdo teria sido gravado por um funcionário de uma usina e comenta supostas ações da facção criminosa. 

Segue a transcrição:

"Você não tem ideia do que fizeram com a gente. O crime organizado comprou usinas na região, em Catanduva e até em Goiás. Agora, o PCC tem usinas, mais de mil postos vendendo combustível sem pagar imposto e ninguém faz nada. Eu denunciei ao governador, ele começou a fiscalizar e, como resposta, colocaram fogo no estado. Fizeram incêndios em cinco ou seis pontos, a favor do vento, contra nós. Metade da usina queimou. Em 40 anos, plantei 2 milhões de árvores e 1.500 hectares de matas. Nós criamos florestas com tamanduás, macacos, onças e veados. E eles queimaram tudo. Sexta e sábado passado, 6 mil hectares queimados, não sobrou uma árvore de pé. Ontem, recolhi tamanduás queimados para levar ao zoológico de Ribeirão para tratamento. Você não acredita no que está acontecendo. E o pior é que temos governos que protegem bandidos. Agora o estrago é enorme, e a gente avisou há tempos sobre esses incêndios criminosos. Não há ajuda. Como você disse, estamos perdidos. Vamos ter que pegar em armas ou pagar proteção para o crime organizado, como os agricultores no México, que estão nas mãos dos cartéis. Lá, não se planta um pé de abacate sem pagar ao cartel. Um abraço para você porque rezar não vai adiantar mais. Já rezei demais".