Porco Moura: raça rara foi salva pelo Paraná e começa a ganhar espaço na alta gastronomia

Criadores e universidades se unem para preservar a raça nativa, valorizada pela carne macia e suculenta

|
Cerca de 74% da produção brasileira é no Paraná, que salvou o porco Moura da extinção

Cerca de 74% da produção brasileira é no Paraná, que salvou o porco Moura da extinção

26deMarçode2025ás16:06

O Paraná é o segundo maior produtor de suínos do Brasil, com 12,4 milhões de animais em 2024, o equivalente a 21,5% da produção nacional — o maior índice já registrado pelo estado. 

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reforçam a força da suinocultura paranaense, que vai além da produção industrial.

Referência no setor, o Paraná também lidera a criação do porco Moura, uma raça nativa brasileira que chama atenção pela carne semelhante aos melhores cortes bovinos: macia, suculenta e saborosa.

Segundo a Universidade Federal do Paraná (UFPR), cerca de 74% dos animais da raça estão no estado. A instituição é responsável pelo Projeto Porco Moura, criado em 1985 para resgatar e incentivar a criação da espécie. Após ser interrompido nos anos 2000, o projeto foi retomado em 2014.

A iniciativa busca preservar não apenas a produção, mas a história e a tradição dessa raça, considerada parte do patrimônio cultural e genético do país.

porcomoura

Resgate da raça

Em 2014, havia apenas 625 exemplares da raça no Sul do Brasil. Em 2024, esse número subiu para cerca de 3.500, sendo mais de 2.600 no Paraná, com presença em pelo menos 21 municípios.

A origem do Moura remonta às missões jesuíticas espanholas, especialmente na região onde hoje está o Rio Grande do Sul. A raça teve papel importante na história brasileira, fornecendo banha utilizada para a iluminação pública antes da chegada da eletricidade.

“O Sul sempre teve importância na suinocultura. O porco Moura foi essencial durante o Ciclo da Banha, mas perdeu espaço com a Revolução Verde, a expansão das indústrias de óleo vegetal e a mudança do foco da produção de banha para carne”, explica Marson Bruck Warpechowski, professor da UFPR e coordenador do projeto.

A raça quase desapareceu após a chegada da peste suína africana ao Brasil no fim dos anos 1970.

O extermínio de criações inteiras, somado ao avanço da suinocultura industrial — que prioriza raças com rápido ganho de peso e menor teor de gordura —, reduziu drasticamente o número de exemplares.

O cenário começou a mudar em 1985, com o professor Narcizo Marques da Silva, da UFPR, que fundou o projeto de resgate da raça.