Brasil está pronto para liderar produção de café de baixo carbono, mas...
Com apoio de cooperativas e fertilizantes inovadores, o país começa a transformar a cafeicultura rumo à sustentabilidade

“Estamos ajudando a criar um mercado que ainda não existe", afirma Acácio Martins, especialista de Cadeia de Alimentos e Sustentabilidade da Yara e responsável pelo projeto com os cafeicultores.
Neste mês, produtores da Cooxupé, uma das maiores cooperativas de café do mundo, com sede em Guaxupé (MG), concluíram a colheita do primeiro lote nacional de café cultivado com fertilizantes de baixíssima emissão de carbono.
O insumo, parte do portfólio Yara Climate Choice™, foi produzido na Noruega com matriz renovável e apresenta redução de até 90% na pegada de carbono na produção, em comparação ao mesmo fertilizante feito com gás natural fóssil.
No grão de café, a redução final estimada pode chegar a 40%, considerando boas práticas agrícolas, ferramentas digitais e eficiência no manejo.
Trata-se de um marco para a descarbonização da cafeicultura brasileira, especialmente em um ano em que o Brasil sediará a COP30 e busca se consolidar como referência global em sustentabilidade agrícola.
Mas para que essa inovação avance além da fase piloto, ainda é necessário vencer obstáculos estruturais: construção de mercado, modelo de remuneração, custo da transição e conscientização da cadeia.
“Estamos ajudando a criar um mercado que ainda não existe. Existe mercado de crédito de carbono, que é commodity. A gente quer uma diferenciação. Queremos agregar valor ao grão de café”, afirma Acácio Martins, especialista de Cadeia de Alimentos e Sustentabilidade da Yara e responsável pelo projeto com os cafeicultores.
Modelo que não onerou o produtor
Um dos pilares do projeto com a Cooxupé foi não repassar o custo da inovação ao agricultor. Como a cooperativa atua como distribuidora de insumos, conseguiu subsidiar os fertilizantes nesta fase inicial.
Em contrapartida, o café será comercializado com valor agregado por rastreabilidade e sustentabilidade, e o prêmio será dividido entre a Yara, a cooperativa e o produtor.
“Crédito de carbono pode ser vendido a R$ 5, R$ 10. Mas o que a gente quer é diferenciação. Queremos agregar valor ao café. Esse valor agregado, inclusive, meio que financia o projeto”, diz Acácio.
Segundo ele. empresas de café mais relevantes do mundo — como Illy, Nespresso, Starbucks e JDE — têm metas concretas de redução de carbono até 2030.
"Comprar esse café brasileiro de menor pegada pode ser a forma mais direta de alcançarem essas metas”, completa.
O desafio agora é justamente acelerar e ampliar essa agenda de transformação em linha às questões climáticas, para que o Brasil crie diretrizes que incentivem melhores práticas no uso dos insumos pelo agricultor e modelos de produção agrícola de baixo carbono.
Esse custo não pode recair no agricultor, mas o inverso: a mudança começa pelo produtor rural e ele precisa receber essa renda adicional.
“A entrega de soluções rumo à neutralidade climática é uma estratégia global da Yara e reforça o potencial do setor de fertilizantes para colaborar para um futuro alimentar sustentável”, diz Marcelo Altieri, presidente da Yara Brasil.
“As mudanças climáticas estão determinando a forma como devemos produzir alimentos e essa nova diretriz demanda um trabalho de coalizão entre produtores, empresas e indústria. A parceria entre a Yara e a Cooxupé é um marco para o Brasil e simboliza justamente esse esforço conjunto, que traz um grande impacto positivo para a natureza e para toda a sociedade”, concluiu.
“Veio para ficar”
O projeto piloto envolveu cerca de 30 produtores cooperados da Cooxupé, entre eles o casal de produtores Juliana Mello e Flávio, além de Diogo Dias Teixeira de Macedo.
Os três participaram da safra inicial e relatam ganhos técnicos, engajamento com as práticas sustentáveis e expectativa de ampliação do modelo.