Café da "boca do vulcão" alcança até R$ 19 mil por saca

Produtor aposta em variedades raras, fermentações artesanais e sustentabilidade para conquistar mercados exigentes como Japão, EUA e Europa

Café da "boca do vulcão" alcança até R$ 19 mil por saca
25deJulhode2025ás14:49

Na borda de um antigo vulcão extinto há 80 milhões de anos, nasce um dos cafés mais premiados do Brasil.

A Fazenda Recreio, localizada no município de São Sebastião da Grama (SP), faz parte da chamada Região Vulcânica, um território de solo fértil e perfil sensorial único, que compreende oito municípios mineiros (Andradas, Bandeira do Sul, Botelhos, Cabo Verde, Caldas, Campestre, Ibitiúra de Minas e Poços de Caldas) e quatro paulistas: Águas da Prata, Caconde, Divinolândia e São Sebastião da Grama.

A propriedade, com 596 hectares, está na mesma família há mais de 130 anos. O primeiro pé de café foi plantado por Inês Bernardina da Silva Dias, tataravó de Diogo Dias Teixeira de Macedo, que hoje representa a quinta geração à frente do negócio.

Depois dela, a fazenda foi tocada pela bisavó, e mais tarde pelo avô Joaquim José, grande referência na vida de Diogo.

“Sempre passei as férias aqui com meu avô. Quando me formei em agronomia, em 2000, larguei São Paulo, onde morei 15 anos, e vim de vez. Comecei trabalhando com gado, mas depois me envolvi com o café. Quem começa a mexer com café, começa a buscar qualidade. Vira um vício bom”, conta.

Com 220 hectares de café 100% arábica, a Fazenda Recreio também aposta na diversificação: cultiva 8 hectares de oliveiras, 2 hectares de uva, tem áreas com eucalipto e mantém um rebanho com 32 cabeças de gado Angus.

Segundo Diogo, a ideia é retomar a pecuária aos poucos, como parte de uma estratégia de produção integrada. Entre as mais de 20 variedades da espécie Coffea arabica cultivadas na fazenda, estão bourbon amarelo, catucaí amarelo, arara, catiguá, topázio e o raro geisha, que ocupa apenas dois hectares. O restante da área é ocupado por florestas nativas, com 35% dedicados à preservação ambiental, acima do exigido por lei.

A topografia acidentada, no alto da cratera vulcânica, impede o uso pleno de máquinas e favorece o trabalho artesanal, especialmente nos lotes de cafés especiais. 

“Aqui é tudo morro. A mecanização é limitada. E com cafés fermentados, seletivos, especiais, tem que ser na mão mesmo.”

diogo

O terroir vulcânico influencia diretamente o sabor da bebida, com grãos mais doces, notas chocolatadas e acidez equilibrada. A fazenda cultiva mais de 20 variedades, entre elas bourbon amarelo, catucaí amarelo, arara, topázio, catiguá e o raro geisha, que ocupa apenas dois hectares.

“O café que você está tomando é um catucaí amarelo com fermentação induzida. Dá uma doçura e suavidade que agrada quem gosta de café especial”, diz ele, com a xícara na mão, enquanto prepara o próprio café que plantou.

Nos últimos anos, Diogo também conduziu um trabalho cuidadoso de recuperação do solo e das áreas de preservação. Hoje, 35% da propriedade é dedicada à conservação ambiental — bem acima dos 20% exigidos por lei. A fazenda é considerada carbono negativo com base em um inventário completo feito pela Cooxupé, que mostrou que a Fazenda Recreio retém mais CO do que emite.

“Essa área preservada cria um microclima que ajuda no controle de pragas como o bicho-mineiro, principalmente em períodos de calor. E a biodiversidade dentro da fazenda, com abelhas e outros polinizadores, melhora a produtividade, mesmo sendo o café uma planta autógama.” 

Reconhecimento internacional e cafés premiados

Com manejo minucioso, fermentações induzidas e rastreabilidade total, a Fazenda Recreio virou referência no setor. Diogo já foi três vezes finalista do Cup of Excellence, o principal concurso de cafés do Brasil, e ficou em quarto lugar em duas edições consecutivas. Em um dos leilões internacionais, vendeu cinco sacas do raro geisha por R$ 19 mil cada. 

O geisha, variedade de origem etíope, é conhecido pela complexidade sensorial e raridade. Na Fazenda Recreio, ocupa apenas dois hectares e passa por um processo rigoroso de colheita manual e fermentação induzida. Foi com um lote desse café que Diogo vendeu cinco sacas com destino ao Japão.