Embrapa propõe soluções sustentáveis a 81 mi ha desmatados na Amazônia
Estudo enumera alternativas para conciliar renda e até reverter áreas degradadas
|O conceito de transição florestal produtiva, que concilia produção e preservação ambiental, pode trazer soluções sustentáveis para os 81 milhões de hectares desmatados na Amazônia Legal, onde vivem cerca de 30 milhões de pessoas.
A conclusão está presente no livro “Sinergia de mudanças da agricultura amazônica: desafios e oportunidades”, que foi lançado pela Embrapa Amazônia Oriental e escrito por 37 autores de 16 instituições nacionais e internacionais.
A obra analisa temas cruciais da pauta regional e apresenta propostas para produção agrícola e florestal como a transição florestal produtiva para redução da área desmatada e a intensificação tecnológica com sustentabilidade em uma área equivalente a duas vezes a área da Alemanha, por exemplo.
“Não existe solução mágica para a região. Leva tempo, exige persistência e sinergia para haver mudanças dessa magnitude, mas uma nova agricultura amazônica é possível e parte dela já está em andamento, expressa, por exemplo, nas iniciativas de domesticação de produtos extrativos para viabilizar cultivos comerciais ou na valorização dos subprodutos dos já domesticados, como o amido da mandioca”, analisa pesquisador Alfredo Homma, autor e editor técnico da publicação.
Ciência, tecnologia e políticas públicas
Homma avalia que a reversão de áreas desmatadas será crescente até atingir de 10 milhões a 15 milhões de hectares no máximo. “Dos 81 milhões de hectares desmatados, é indispensável manter um mínimo de 60 milhões a 65 milhões deles para as atividades produtivas, cidades, infraestrutura. Isto seria possível mediante intensificação da agricultura e da pecuária, liberação das áreas de pastos, piscicultura, orientação para cultivos perenes, mudanças para atividades poupadoras de terra”, antevê o pesquisador.
De acordo ele, não se pode prescindir de planejamento e investimento em contínuas descobertas científicas e tecnológicas aplicáveis à Amazônia, nem de políticas públicas que favoreçam a inclusão e o engajamento de produtores e demais agentes das cadeias produtivas.
“Em face do grande número de pequenos produtores envolvidos, há necessidade de direcionamento econômico voltado para o social com o compromisso de criar e adotar alternativas que elevem o padrão tecnológico e econômico visando a sustentabilidade das atividades agrícolas e pecuárias”, salienta.
Evitar novas fronteiras
O autor defende ainda o aumento da produtividade da atual agricultura como uma forma de manter a fronteira velha (áreas já exploradas) contida no tamanho que ocupa hoje e também causar redução das novas fronteiras.
“É possível desenvolver uma agricultura amazônica utilizando somente as áreas já desmatadas”, garante o pesquisador, para quem a domesticação de produtos extrativos que já chegaram ao limite da capacidade de oferta também é fundamental nesse processo.