Dia do Índio: tribos também plantam grandes lavouras de grãos no Brasil
Cooperativa de povos originários beneficia 2 mil pessoas de quatro etnias e usa 19 mil hectares para produzir soja, milho, feijão, sorgo e painço no Mato Grosso.
"Nesta safra passada de 2020/21, as nossas lavouras produziram mais de 400 mil sacas de soja e 150 mil sacas de feijão", disse Eliane. (foto - Coopinahama)
O que define a identidade de um povo? Segundo a indígena Eliane Zoizocaeroce, não é só a forma de produzir algo.
Ela é a presidente da Coopihanama e lidera um empreendimento agrícola que beneficia mais de 2 mil nativos plantando 19 mil hectares de soja, milho, feijão, sorgo e painço no Mato Grosso.
Coopihanama é a abreviação de Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki, que reúne tribos no entorno de duas grandes reservas indígenas, com cerca 2 milhões de hectares, próximos à cidade de Campo Novo dos Parecis.
“Se eu falar que é fácil, estaria mentindo, mas com planejamento e dedicação dá para fazer tudo. Confiaram a mim essa liderança na Cooperativa. Hoje estou aqui para cuidar desse patrimônio que é da nossa comunidade”, pontua Eliane.
Na década de 1980, a população originária na região estava diminuindo porque esta área não é abundante em alternativas alimentares, como peixes ou animais de caça. Os indivíduos estavam deixando suas terras para encontrar outros meios de vida.
“Nosso povo, mulheres e crianças, sofreu até com a desnutrição. Vinte anos atrás, não havia apenas 300 indivíduos. Se não fosse agricultura por aqui, seríamos dizimados ou todos iriam embora”, disse o cacique Ronaldo Zokezomaiake, ex-presidente da Coopihanma.
No início dos anos 2000, eles resolveram empreender por conta própria. A alternativa era o agronegócio. Se os povos originários podem plantar em fazendas não indígenas da região, por que não em suas próprias terras?
A primeira experiência foi abrir uma área de arroz em 2005. Nos anos seguintes, as tribos começaram com soja convencional (não OMG), milho, feijão e girassol, usando as mesmas técnicas do “homem branco”.