“A edição gênica está democratizando a biotecnologia”, diz chefe-geral da Embrapa Soja
Técnica elevou número de empresas no mercado, espécies atendidas e características melhoradas em plantas
De acordo com Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja, a legislação no Brasil sobre edição gênica está alinhada com os principais países, especialmente das Américas.
A edição gênica aponta para uma ampla democratização da biotecnologia tanto em variedades de plantas, organismos e características genéticas, como no número de agentes aptos a aplicar tais técnicas comercialmente na agropecuária.
O entendimento é de Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja, que participou, na semana passada, de um dos painéis do Congresso Mundial de Sementes (World Seed Congress, WSC), realizado em Roterdam, na Holanda.
Em sua apresentação, o especialista demonstrou o impacto das tecnologias como o CRISPR-Cas9 no market share de mercados como os Estados Unidos e a Argentina de acordo com estudos realizados, respectivamente, em 2023 e 2020.
No nosso vizinho, por exemplo, o mercado de transgênicos tem 90% das variedades com propriedade intelectual de multinacionais e apenas 8% de companhias ou institutos de pesquisa locais.
Já no caso da edição gênica, o market share cai para 9% nas mãos de grandes multinacionais e sobe para 59% para os agentes locais.
Já nos Estados Unidos, por exemplo, cinco companhias detinham 58% de todo o mercado de transgênicos, enquanto 33 já atuavam no mercado de edição gênica.
“A tecnologia CRISPR tem democratizado a biotecnologia, permitindo que startups desenvolvam novas variedades de culturas como alface, tomate e banana, que enfrentam sérios problemas agronômicos”, disse em entrevista ao Agrofy News.
Apesar de ser uma tecnologia mais recente, o CRISPR-Cas9 tem entregas de melhorias em uma variedade mais ampla de culturas, como arroz, tomates, milho, trigo, soja, canola, batata, tabaco, cevada, melancia e outras.
Segundo o Journal of Plant Biochemestry and Biotechnology, ao menos 65 espécies de plantas para alimentação já possuíam desenvolvimentos por CRISPR-Cas registrados até dezembro de 2023.
Já a transgenia, como se sabe, tem foco muito mais concentrado em grandes commodities, como soja, milho, trigo, algodão e cana-de-açúcar. O motivo é justamente o custo com P&D e burocracia que, segundo Nepomuceno, pode superar os US$ 100 milhões para o desenvolvimento de uma variedade.
“Essa abordagem de edição gênica é mais aceita globalmente do que a adoção inicial dos transgênicos, que gerou polêmicas e regulamentações diversas entre os países”, relembra.
A explicação é justamente que o desenvolvimento de variedades via CRISPR-cas9 ocorre sem uso de genes externos, ou seja, apenas com os próprios genes de cada espécie.