"Não quero dizer guerra civil, mas sim algo ruim”, diz sul-africano sobre expropriação de terras
A exemplo do Brasil, fazendeiros sul-africanos temem perder terras para povos originários

As semelhanças entre Brasil e África do Sul vão além da força no agronegócio, a participação no BRICs e uma sociedade com mescla entre culturas. Quando o assunto é a posse da terra, fazendeiros de ambos países tem sérias preocupações em comum.
Se o debate sobre o Marco Temporal brasileiro tramita há anos no Supremo Tribunal Federal (STF), no caso sul-africano, as regras para possíveis desapropriações em favor de povos originários vieram “sem diálogo", direto do presidente Cyril Ramaphosa.
A Família Vorster possui terras nos arredores da pequena cidade de Letsitele, província de Limpopo, nordeste do país, desde 1942, e atualmente, comanda um dos principais grupos da produção de frutas no país, o Mahela Group.
Ainda durante o regime do Apartheid, Ben Jacobus Vorster desenvolveu a produção de hortaliças, frutas cítricas e outras culturas até seus filhos assumirem a partir dos anos de 1980.
Atualmente, os Vorster possuem cerca de 10 mil hectares, após venderem cerca de 4,5 mil hectares ao governo há cerca de 15 anos. A partir de 1994, a ascensão de Nelson Mandela e o fim do regime do Apartheid motivaram as primeiras desapropriações.
“Desde aquela época, é um tema muito sensível, mas havia uma negociação e um acordo financeiro com os proprietários dispostos a vender. Há algumas semanas, no entanto, o atual presidente sancionou uma lei sobre expropriação sem compensação”, explica Pieter Vorster, um dos diretores do grupo.
Após quatro gerações nas mesmas terras, o fazendeiro admite a preocupação e aponta a nova Lei de Expropriação como o “caminho do fracasso” do país.
"Os agricultores muito preocupados. Não tenho medo, pois acredito que haja pessoas inteligentes suficientes no governo para perceber que, se simplesmente fizerem isso de modo cego, o país irá colapsar, como ocorreu no Zimbábue”, compara.
O caso do país que faz fronteira ao norte da África do Sul é considerado emblemático. A reforma agrária no Zimbábue resultou na expropriação de mais de 4 mil fazendas pertencentes a agricultores brancos a partir do ano 2000.
O país enfrentou graves crises de abastecimento de alimentos, hiperinflação e fome, pois muitas terras férteis simplesmente deixaram de ser cultivadas. A população branca diminui de cerca de 5% para menos de 1% desde então e o desemprego bateu recordes.
"A agricultura da África do Sul é uma das maiores fontes de emprego. Portanto, se o governo começar a expropriar sem compensação, isso vai resultar, primeiramente, em um grande conflito. Não quero dizer guerra civil, mas não vai ser algo bom para o país”, prevê.