"Brasil chegará com discurso fragmentado à COP30", diz Marcello Brito
Especialista aponta falhas de articulação e omissões que podem comprometer protagonismo do país na cúpula climática

Há menos de 160 dias para a Conferência das Partes da ONU sobre o Clima (COP30), o Brasil ainda não logrou um discurso coeso para apresentar ao mundo.
Para o especialista em sustentabilidade e agronegócio, Marcello Brito, trata-se de uma oportunidade histórica sendo desperdiçada por pura desorganização interna. Ele concedeu entrevista ao Agrofy News durante o Biosummit hoje (dia 4) em Campinas.
“Vamos perder uma oportunidade maravilhosa. Sabíamos desde março do ano passado que a COP seria no Brasil. Era tempo suficiente para construir uma mensagem única, baseada em colaboração entre os setores. Não fizemos”, lamenta.
Ex-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e integrante do Conselho Consultivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, Brito é uma das vozes mais respeitadas quando o tema é o papel do agro na agenda climática.
Segundo ele, o problema não é só externo, mas começa dentro do próprio governo brasileiro. “Você apresenta um dado do Ministério da Agricultura e o do Meio Ambiente não chancela. Ou o contrário. Ou seja, nem dentro do próprio governo há consenso. Isso enfraquece totalmente a credibilidade do país diante da comunidade internacional.”
Para Brito, a postura ufanista de parte do setor agro e da política ambiental brasileira também atrapalha. “Ficar repetindo que temos a agricultura mais sustentável do mundo é um erro estratégico. Ninguém mais aguenta isso. O Brasil precisa demonstrar com dados auditados, não apenas contar vantagem.”
A orientação que ele defende é clara: substituir o marketing por ciência. “Quando você apresenta dados de sequestro de carbono, ampliação de ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), uso de APPs e reservas legais preservadas, isso fala mais alto que qualquer discurso arrogante. O Brasil deveria mostrar, não apenas falar.”
Remoções de CO2 do agro
Um dos pontos mais graves destacados por Brito é a ausência das remoções de CO₂ equivalente promovidas pela agropecuária nos inventários climáticos nacionais. Para ele, essa ausência distorce completamente o papel do setor nas emissões globais.