Brasil precisa se preparar para um mundo mais rude e imprevisível, diz embaixador Fernando Pimentel
Diplomata alerta para avanço de políticas unilaterais, enfraquecimento da OMC e destaca papel do agro como força de estabilidade global

Pimentel também defendeu que o Brasil siga engajado na reforma da OMC, mesmo diante do descrédito crescente. (Foto - Divulgação_
O comércio internacional atravessa uma fase crítica. A previsibilidade garantida por décadas de acordos multilaterais vem sendo substituída por uma lógica de enfrentamento, com tarifas elevadas, medidas protecionistas e pressões políticas.
Para o Brasil, o alerta já está dado. “Precisamos nos preparar para um mundo mais rude e difícil”, afirmou o embaixador Fernando Pimentel, diretor do Departamento de Política Comercial do Itamaraty, durante o painel de encerramento do 3º Congresso da Abramilho, realizado nesta quarta-feira (14), em Brasília.
Pimentel destacou que esse cenário é resultado de um processo em curso há anos, marcado pelo esvaziamento da Organização Mundial do Comércio (OMC) e pelo avanço de políticas unilaterais adotadas por potências como Estados Unidos e União Europeia. “Cada vez mais políticas unilaterais, cada vez menos regras. Isso afeta toda a cadeia, do produtor ao consumidor”, disse.
Segundo ele, a OMC — embora ainda seja a base dos acordos internacionais — perdeu força diante da retirada de apoio político de seus principais defensores históricos.
“Quando o sistema de regras quebra, a gente percebe o quanto ele faz falta. O mundo hoje é menos previsível, menos estável e mais agressivo.”
Diante desse contexto, o Brasil tem adotado uma postura mais pragmática. Um dos instrumentos dessa nova fase é a lei de reciprocidade comercial, aprovada por unanimidade no Congresso. A norma permite que o país reaja em casos de práticas desleais.
“O ideal é não usar, mas é fundamental ter. A gente não podia continuar como antes, sem nenhuma alavanca”, pontuou.